Alguma coisa sobre literatura e arte.

"Eu Queria Dissecar O Mundo"

terça-feira, 1 de janeiro de 2008 em 11:53:00 AM

Eu queria dissecar o mundo.
Exatamente porque tenho medo dele.
Vai que eu o disseco e encontro
Explicações pra muito que não enxergo!


Mas eu tenho medo do mundo.
Tenho medo, às vezes, porque me sinto ele.
Às vezes porque muito me sinto nele.
É isso: às vezes porque me sinto o mundo!


Às vezes eu queria mandá-lo aquele lugar.
Talvez, é isso o que sempre faço.
Talvez, até, é sempre isso o mais propicio.
Mas se assim o prossigo comove-me profundo e muito o meu e - principalmente - o alheio descaso.


Assim por saber, que é geral o descaso do resto ao mundo...
Assim por saber, que ao mundo talvez até pouco importe esse tal descaso -
Talvez até pouco importe eu mesmo ao mundo,
Ou esse meu medo e inquietude não seja nada mais alem de um insignificantissímo descaso -


É que percebo que quero só não me sentir assim tão só no mundo.
Como quem não faz aquilo ou isso.
Como quem veleja procurando abismos.
Eu quero saber algo melhor que qualquer melhor.


Eu queria dissecar o mundo
E talvez, muito, até, dar nele um nó.
Como quem insatisfeito não sossega,
Como quem procura um lero esquisitissimo qualquer.


Mas o mundo, essa manhã,
De todo o mal, nem me fez o maior.
Talvez, nem me fez mal a um outro olhar qualquer.
Talvez o mundo só me espanta por eu ser assim desse tamanho só.


Confesso que essa manhã -
E há muito tempo, muito tempo -
Não sentia tanto tanto tanto tanto tanto
Esse vazio tosco, tão intenso!


De como quem alveja e cala
Por não conseguir o mínimo alento,
N'uma estrada finita e clara,
N'uma estrada ali na frente,


Respostas banais e tantas,
Simples pra me fazerem dormir bem e freqüente.
Pra me fazerem amigo do mundo.
Pra me mostrarem o mundo muito mais elegante.


Mas eu desisto de exigir assim do mundo.
E também desisto de andar falando sozinho.
Até porque muito me desconforta a ânsia de saber que só me escutam os passarinhos.


Também não digo que nada mais quero.
Já tenho tudo que preciso e não exagero.
Aos poucos percebo como é mínimo a muita materialidade que peço.
Aos poucos percebo o quanto é Imprescindível, frustrante, essencial, inútil, impotente
[exigir qualquer explicação de qualquer um, ou qualquer coisa, sobre o mundo.


Tenho mais é que ir pro Limofolia!
Tocar-me com alguma menina muito exuberante!
Frustrar-me com intrigas sociais passadas mesquinhas!
Querer aos amigos e inimigos mais vis mostrar-me o mais gigante!


Sem pensar sobre qualquer coisa sobre o mundo.
Nem ligar se estou sozinho.
Preocupando-me com alguns sentimentos mais amenos, menos dolorosos, intensos..
Sabendo que o mundo não é nada dissecável.
Sabendo, que do mundo, algum dia, cedo ou tarde, eu vou descobrir tudinho.


Observações: Tudo isso foi escrito ainda sob efeito de alcool, depois de uma festa em um clube chamado "Paraíso". Quase todo poema foi motivado por uma conversa que eu tive com uma garota que hoje é minha atual namorada. Depois de conversar com ela - por sinal o primeiro dialogo que tive com essa pessoa -, ao caminhar para casa, vinha recitando algo que seria um esborço do que aqui se encontrar.

Muito cômodo

segunda-feira, 5 de novembro de 2007 em 1:26:00 AM

Ter raiva é muito cômodo.
O sentimento de vingança é muito cômodo.
O egoísmo também é muito cômodo.
E o preconceito é muito cômodo.
(Não saber o que é, ou quando se tem preconceito é muito cômodo.)
Não perdoar é muito cômodo.
Mandar alguém se fuder é
cômodississississimo.
E ter rancor é cômodo.

Evitar tudo isso é braçal.
Não sentir é duríssimo.
Conquistar tais sublimações consiste numa nobreza que parece ser inatingível.
Também é muito fácil falar,
sugerir, quando se julga tais caminhos melhores alternativas.
mas tentemos!
Por ser incomum, pouco usual,
Parecido levar p'rum lugar de mais paz do que esse atual.

Jorge Amado

terça-feira, 30 de outubro de 2007 em 1:47:00 AM


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O Superorgânico

sábado, 15 de setembro de 2007 em 8:52:00 AM

"Segundo um dito que é quase proverbial, e verdadeiro na medida em que podem ser verdadeiros tais lugares comuns, o escolar moderno sabe mais que Aristóteles;
mas esse fato, soubesse o escolar mil vezes mais que Aristóles, nem por isso o
dota de uma fração do intelecto do grande grego. Socialmente - é o conhecimento,
e não o desenvolvimento maior de um ou outro individuo, que vale, do mesmo modo
que na mesuração da verdadeira força da grandeza da pessoa, o psicologo ou o
geneticista não leva em consideração o estado do esclarecimento geral, o grau
variavel do desenvolvimento ligado á civilização, para fazer suas comparações.
Cem aritóteles perdidos entre nossos ancestrais habitantes das cavernas não
seriam menos Aristóles por direito do nascimento; mas teriam contribuido muito
menos pra o progreso da ciência de que doze esforçadas mediocridades no século
vinte. Um super-Arquimedes na idade do gelo não teria inventado nem armas de
foto nem o telégrafo. Se tivesse nascido no Congo ao invés de uma Saxônia, não
poderia Bach ter composto nem mesmo um fragmento de coral ou sonata, se bem que
possamos confiar igualmente em que ele teria eclipsado os seus compatriotas em
alguma epécie de música. Quanto a saber se existiu algum dia um Bach na África,
é outra questão - á qual não se pode dar uma respota negativa meramente porque
nenhum Bach jamais por lá apareceu, questão que devemos razoalmente admitir não
ter tido resposta, mas em relação á qual o estudioso da civilização, até que se
apresente uma demonstração, não pode dar mais que uma respota e assumir uma só
atitude: supor, não como uma finalidade mas como uma condição de método, que
existiram tais indivíduos; que o gênio e a capacidade ocorrem com frequencia
substancialmente regular, e que todas raças ou grupos bastante grandes de homens
são em média substancialmente iguais e têm as mesmas qualidades. "


Alfred Kroeber, 1949 - Superorgânico, P. 264

Provavelmente mais um apógrifo do Mario Quintana. Porém muito belo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007 em 12:18:00 AM

Não quero

Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim,
que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame,
não se importando com que intensidade.

Não tenho a pretensão de que todas
as pessoas que gosto, gostem de mim...
Nem que eu faça a falta que elas me fazem.
O importante pra mim, é saber

que eu,
em algum momento, fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso
estampado em meu rosto,
mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
E poder ter a

absoluta certeza de que esse alguém
também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar
de minhas renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou,
não pelo que tenho...

Que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons sentimentos
que a vida lhe proporciona,
que de valor ao que realmente importa,
ao meu sentimento... e não brinque com ele.

E que esse alguém me peça para que eu nunca mude,
para que eu nunca cresça,
para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo,
mas se um dia isso acontecer,
quero ter foras suficientes para
mostrar a ele que o amor existe...
Que ele é superior ao ódio e ao rancor,
e que não existe vitória sem humildade e paz.

Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar,
amanhã será outro dia, e se eu não desistir
dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito
e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança
ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um "não"
que a gente teima em maquiá-lo de verde
e entendê-lo como "sim".

Quero poder ter a liberdade de
dizer o que sinto a uma pessoa,
de poder dizer a alguém o quanto ele é
especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros ...
Sem correr o risco de ferir uma
ou mais pessoas com esse sentimento

Quero, um dia, poder dizer
as pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe, que vale a pena
se doar as amizades e as pessoas,
que a vida é bela sim,
e que eu sempre dei o melhor de mim
... e que valeu a pena!!!


Mario Quintana :-\ até que se prove o contrário.

Sonho

quinta-feira, 9 de agosto de 2007 em 12:06:00 AM

[magritte2.jpg]

Não sei de quem é. Quem souber avisa!
ah, esqueci.. isso nao é possivel. nao aqui nesse blog.

Amei-te e por te amar...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007 em 12:30:00 AM



Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
É que eu te conheci...

Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante...
Eras o Universo...
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.

Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via...
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu.

Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar...
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora..

Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar...
Nem foste um sonho meu...
Porque te choro eu?

Não sei... Perdi-te, e és hoje
Real no [...] real...
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.

Em que és [...] fictício,
Em que tempo parado
Foste o (...) cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto...

[...] tuas mãos, contudo,
Sinto nas minhas mãos,
Nosso olhar fixo e mudo
Quantos momentos vãos
Pra além de nós viveu
Nem nosso, teu ou meu...

Quantas vezes sentimos
Alma nosso contacto
Quantas vezes seguimos
Pelo caminho abstrato
Que vai entre alma e alma...
Horas de inquieta calma!

E hoje pergunto em mim
Quem foi que amei, beijei
Com quem perdi o fim
Aos sonhos que sonhei...
Procuro-te e nem vejo
O meu próprio desejo...

Que foi real em nós?
Que houve em nós de sonho?
De que Nós fomos de que voz
O duplo eco risonho
Que unidade tivemos?
O que foi que perdemos?

Nós não sonhamos. Eras
Real e eu era real.
Tuas mãos - tão sinceras...
Meu gesto - tão leal...
Tu e eu lado a lado...
Isto... e isto acabado...

Como houve em nós amor
E deixou de o haver?
Sei que hoje é vaga dor
O que era então prazer...
Mas não sei que passou
Por nós e acordou...

Amamo-nos deveras?
Amamo-nos ainda?
Se penso vejo que eras
A mesma que és... E finda
Tudo o que foi o amor;
Assim quase sem dor.

Sem dor... Um pasmo vago
De ter havido amar...
Quase que me embriago
De mal poder pensar...
O que mudou e onde?
O que é que em nós se esconde?

Talvez sintas como eu
E não saibas senti-o...
Ser é ser nosso véu
Amar é encobri-o,
Hoje que te deixei
É que sei que te amei...

Somos a nossa bruma...
É pra dentro que vemos...
Caem-nos uma a uma
As compreensões que temos
E ficamos no frio
Do Universo vazio...

Que importa? Se o que foi
Entre nós foi amor,
Se por te amar me dói
Já não te amar, e a dor
Tem um íntimo sentido,
Nada será perdido...

E além de nós, no Agora
Que não nos tem por véus
Viveremos a Hora
Virados para Deus
E n'um (...) mudo
Compreenderemos tudo.